POLINIZAÇÃO NA FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO
Das diversas fases que envolvem a produção de frutas, pode-se dizer que a frutificação efetiva é uma das mais importantes. Esse processo envolve principalmente duas fases: a polinização e a fecundação. Uma vez realizada a polinização, inicia-se o processo de fecundação, que é a união do gameta masculino (pólen) com o gameta feminino (óvulo), do qual resulta o ovo, que irá se desenvolver e formar as sementes.
Quando a polinização é insuficiente, observa-se reduzida quantidade de sementes, o que acarreta em frutos deformados (Figura 1). Nesse caso, para o desenvolvimento do fruto, a fruta necessita de hormônios produzidos em outras partes da planta ou de aplicações de reguladores de crescimento pelo fruticultor uma vez que existem poucas sementes para realizar a produção local destas substâncias.
No Brasil, as recomendações técnicas de densidade de colmeias por hectare para a polinização de pomares são baseadas em estudos conduzidos na década de 1970 em pomares de macieira ‘Golden Delicious’, ‘Starkrinson’ e ‘Golden’ no município de Fraiburgo-SC (Wiese, 1974). A recomendação para aquela época e ainda utilizada atualmente é entre 0,5 e 3 colmeias/ha, sendo que os antigos plantios apresentavam densidades de 600 plantas/ha, e plantas com uma média de 330 flores. Atualmente, a maior parte dos pomares apresentam plantios em alta densidade (>2.500 plantas/ha) e plantas com uma quantidade muito superior a 500 flores, ou seja, a quantidade de flores por área aumentou significativamente, enquanto as quantidades de colônias por área mantem-se as mesmas da década de 1970.
A polinização é um serviço feito naturalmente pelas abelhas, contudo, a pouca atratividade das flores da maioria das frutíferas de clima temperado e a ocorrência de competição floral com plantas nativas altamente atrativas para as abelhas no entorno dos pomares pode potencializar a baixa visitação das abelhas nas flores do pomar, uma vez que, as abelhas, após descobrirem uma fonte de néctar e/ou pólen que seja energeticamente mais eficiente, passam a coletar preferencialmente este recurso. Estudos apontam que a quantidade de pólen recolhido durante as primeiras 6 horas após a instalação das colônias em um pomar de pereiras em plena floração diminui de 85% para 49%, pois as abelhas abandonam o pomar em busca de outras fontes de pólen. Em pomar de macieiras em Caçador-SC, após uma semana, apenas 20% do pólen recolhido é de macieira, o restante de plantas nativas (Figura 2).

Como medida de diminuir esse problema, recomenda-se a introdução de colônias adicionais após uma primeira introdução, uma vez que as abelhas recém introduzidas realizam o forrageio próximo da colmeia antes de descobrirem as espécies silvestres em floração. Stern et al. (2004) citam que a introdução de 5 colônias/ha em duas vezes (metade com 10% das flores abertas e o restante na plena floração) promoveu uma maior coleta de pólen de pereira pelas abelhas quando comparado com a introdução de 5 colônias/ha de uma só vez no início da floração. Salomé & Orth (2014) obtiveram um incremento de 92,5% na frutificação efetiva de macieiras ‘Galaxy’ em Bom Retiro – SC com a introdução de 6 colônias/ha em duas vezes: três colônias quando 20% das flores estavam abertas e mais três colônias na plena floração, quando comparado com a recomendação técnica vigente que é de 3 colônias/ha introduzidas no início da floração.
Sendo assim, é indicado para qualquer tipo de pomar, especialmente os conduzidos em alta densidade, a utilização de pelo menos 6 colônias/ha, com a introdução das mesmas realizadas em duas etapas: três colônias no início da floração, e mais três na plena floração. Quando as condições climáticas não forem favoráveis ao forrageio das abelhas (previsão de ocorrência de frio, chuva e ventos), sugere-se ampliar a densidade para 10 colônias/ha ou mais, o que permite que nos poucos períodos de tempo favorável ao forrageio, uma maior quantidade de abelhas esteja disponível para realizar as visitas nas flores.
Em pomares com cobertura antigranizo se recomenda a abertura das telas durante o período de floração para otimizar o forrageio das abelhas (Figura 4).

Outra opção é a utilização de abelhas nativas (meliponídeos, abelhas indígenas, abelhas sem ferrão). Esse grupo de abelhas apresenta o comportamento de forrageio melhor adaptado nesse tipo de ambiente, formam colônias que são manejáveis, podendo prestar uma importante contribuição como complemento a polinização realizada pela abelha doméstica Apis mellifera. Estudos em pomar de macieiras ‘Monalisa’ em Caçador-SC mostraram incremento de até 3,8 toneladas por hectare com a utilização de 6 colônias de abelhas Apis mellifera + 12 colônias de abelhas nativas por hectare quando comparado com pomar sem tela e sem as abelhas nativas (Figura 5).
Os fatores que interferem na polinização são diversos, com muitos detalhes que podem ser ajustados e dependem de pomar para pomar. Pesquisas no Brasil e ao redor do mundo vem sendo realizadas para se garantir uma polinização bem-sucedida e que essa etapa-chave para a produção de frutas seja otimizada, permitindo ao fruticultor maior segurança e rentabilidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SALOMÉ, J.A.; ORTH, A.I. Polinização em Pomares de Macieiras: nova metodologia para o aumento da frutificação com o manejo correto de colmeias. Agropecuária Catarinense, v. 27, p. 101-110, 2014.
STERN, R. A.; GOLDWAY, M.; ZISOVICH, A. H.; SHAFIR, S.; DAG, A. Sequential introduction of honeybee colonies increases cross-pollination, fruit set and yield of Spadona pear (Pyrus communis). Journal of Horticultural Science and Biotechnology, v.79, n. 4, p. 652-658, 2004.
WIESE, H. Normas para atividades de polinização com abelhas em fruticultura. 1.ed. Florianópolis: Iasc, 1974. 87p.
André Amarildo Sezerino
Eng. Agr. Dr. Epagri/Estação Experimental de Caçador. E-mail: andresezerino@epagri.sc.gov.br