26 ago

VAMOS AUMENTAR AS OPÇÕES COMERCIAIS DE MAÇÃ?

Certamente você já comeu as maçãs dos cultivares do grupo ‘Gala’ e ‘Fuji’. E daí? Gostou do sabor e da aparência delas? Tenho certeza que sim, principalmente se consumiu as maçãs ‘Gala’ recém-colhidas ou armazenadas até julho. O mesmo com as maçãs ‘Fuji’, mas armazenadas até setembro. Acho que como consumidor notou que após esses meses o sabor, a crocância e a suculência não são as mesmas, principalmente com as maçãs ‘Gala’.

No entanto, no comércio é possível observar que a firmeza das polpas das maçãs pode diminuir de março a julho para cerca de 12lb e então aumentar para aproximadamente 14 a 15 lb de novembro a janeiro, dependendo do cultivar. Isso considerando que foram armazenadas em câmaras de atmosfera controlada com aplicação de 1-MCP. A explicação para isso é o envio de maçãs armazenadas que foram colhidas com maior firmeza para então serem comercializadas ao final do ano (Argenta et al., 2015).

Da mesma forma, os consumidores, produtores ou empresários que armazenam as maçãs ‘Fuji’ também observam a perda de qualidade ao longo dos meses, mas isso é normal. No entanto, nessas maçãs do grupo ‘Fuji’ há um outro problema a ser resolvido: a alta incidência de podridões nos frutos, o que causa elevada perda na armazenagem e consequente redução do lucro.

Daí surge uma pergunta: temos outras opções de cultivares para serem plantados, mas que tenham e mantenham alta qualidade organoléptica e suportem longo período de armazenagem? Eles estão disponíveis para serem plantados? A resposta a essas três indagações são: sim, sim e parcialmente para as novas cultivares aqui citadas.

Esses novos cultivares (alguns não tão novos assim) são mais adaptados às condições climáticas das principais regiões produtoras do sul do Brasil e o seu período de armazenagem varia conforme o cultivar. Nem todos suportam 10 meses em câmara fria e mantém os frutos com alta qualidade, pois isso é inerente à carga genética de cada um. Mas, podem ser mantidos na câmara fria e serem retirados para a venda em diferentes épocas do ano.

Por exemplo: a) frutos dos cultivares mais precoces podem ser vendidos logo após a colheita, entre final de dezembro e janeiro: ‘Lorenzo’ e ‘Eva’; b) cultivares que suportam médio período de armazenagem e podem ser comercializados entre fevereiro e julho: ‘Monalisa’, ‘Fuji Precoce’, ‘Luiza’, ‘Gala Gui’, ‘Galidia’ e ‘Daiane’; b) cultivares que suportam longo período de armazenagem e podem ser vendidos entre julho e novembro: ‘Venice’, ‘Fuji Suprema’ e ‘Mishima’ e ‘Elenise’; c) cultivares que suportam período muito longo de armazenagem e podem ser vendidos entre novembro e em janeiro do ano seguinte: ‘Isadora’, ‘Fuji Suprema’ e ‘Mishima. Um adendo importante é que as maçãs do cv. Venice são mais suscetíveis à podridão por Penicillium na armazenagem que ‘Gala’ e ‘Fuji’.

É possível afirmar que alguns desses cultivares citados tem igual ou maior qualidade organoléptica que os cultivares do grupo ‘Gala’ e ‘Fuji’. Essa melhor qualidade está relacionada principalmente à maior crocância e suculência. E, mais um importante adendo: eles apresentam resistência genética tipo imunidade às doenças mancha foliar de Glomerella e/ou sarna.

Esses novos cultivares representam um novo desafio aos produtores: oferecer aos consumidores maçãs de qualidade semelhante ou mesmo superior às cultivares do grupo ‘Gala’ e ‘Fuji’, mantendo os frutos extremamente atrativos ao longo de diferentes meses. Quem já provou os frutos de ‘Monalisa’, ‘Luiza’, ‘Daiane’, ‘Serrana’, ‘Venice’, ‘Isadora’ e ‘Elenise’ sabe do que estou falando.

Evidentemente, há algumas deficiências nesses cultivares, tais como em alguns anos a aparência dos frutos de ‘Isadora’ não é tão bonita como as da ‘Gala’ e da ‘Fuji’ produzida nas regiões mais frias do sul do Brasil, como a de São Joaquim, mas a qualidade da polpa é muito superior à da ‘Fuji’, principalmente entre outubro e em janeiro do ano seguinte. E os frutos de ‘Daiane’ podem ficar mais alongados, o que pode depreciá-los comercialmente, e devem ser colhidos no ponto correto de maturação.

Outro fator importante ao utilizar o plantio de diferentes cultivares (Figura 1) é poder escalonar o uso da mão-de-obra na colheita dos frutos. Neste caso, poderia começar colhendo os frutos de ‘Lorenzo’ e ‘Eva’ entre o final de dezembro ao início de janeiro e imediatamente colocá-los à venda. Em seguida, pouco antes da metade de janeiro inicia a colheita de ‘Monalisa’ (Figura 2) ou ‘Fuji Precoce’. No final de janeiro inicia a colheita do grupo ‘Gala’ e no início de fevereiro inicia a colheita de ‘Luiza’ e ‘Serrana’. No início de março inicia a colheita de ‘Daiane’ e ‘Venice’, para em seguida iniciar a colheita das maçãs do grupo ‘Fuji’. Para finalizar, no início de abril inicia a colheita de ‘Isadora’ e em seguida de ‘Elenise’. Para alguns produtores, principalmente os maiores, não é factível plantar todas essas cultivares. Nestes casos, sugere-se que escolham duas a quatro dessas cultivares e as plante em diferentes quantidades de área, conforme for o interesse em priorizar uma ou duas delas. Ou mesmo utilizar alguns cultivares de alta qualidade como polinizadores para colher e oferecer seus frutos em diferentes épocas. Isso pode ser uma boa opção.

Se o produtor brasileiro não plantar algumas dessas novas cultivares, os produtores de outros países o farão e irão exportar os seus frutos para aqui serem comercializados. E isso deverá ocorrer brevemente com os plantios das cultivares que formam a marca “Sambóa”®, já existentes na Itália. Tal situação pode representar a perda de uma parte do mercado. A inovação é necessária para atender e surpreender os consumidores. E para reduzir os custos de produção.

Figura 1. Sugestão de plantio de 14 diferentes cultivares de macieira, sendo sete híbridos (h) e sete mutações somáticas espontâneas (m) e respectivas épocas de início da colheita, proporcionando cinco meses de colheita.

Fonte: Faoro, 2022, modificado.

Figura 2. Frutos do cv. SCS417 Monalisa

Fotografia: Ivan D. Faoro

Referências

ARGENTA, L.C.; VIEIRA, M.J.; SOUZA, F.D.; PEREIRA, W.S.P.; EDAGI, F.K.  Diagnóstico da qualidade de maçãs no mercado varejista Brasileiro. Revista Brasileira de Fruticultura, v.37, p.48-63, 2015.

 

FAORO, I.D. (Org.)  Maçãs do grupo ‘Gala’ no Brasil. Florianópolis: Epagri, 2022. 304p.

 

Ivan Dagoberto Faoro – Eng. agr. Dr.

Epagri / Estação Experimental de Caçador “José Oscar Kurtz”, e-mail: ivanfaoro@uol.com.br

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